Pedro, Novela Babilônia, House of Cards e Lula
Paulo repreende a Pedro
11 Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável. 12 Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram da circuncisão. 13 Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar.
14 Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: “Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como judeus? (Gálatas 2:11-14)
O alimentar-se para os judeus era algo íntimo e deveria ser compartilhado em proximidade apenas com judeus. Pedro procedia como alguém livre da lei judaica, alimentando-se com todos, não estava mais prezo as tradições do judaísmo e sim comprometido com o novo paradigma que Jesus havia difundido: “a Fé inspirada no Amor, a Salvação fundamentada nesta Fé”, entretanto diante de judeus Pedro queria demonstrar que ainda vivia de acordo com a lei e as tradições.
Paulo repreende a Pedro por querer demonstrar o que não era, desta maneira convoca Pedro a uma vida autêntica. Este registro presente no Evangelho é extremamente atual, vivemos num mundo onde a hipocrisia tem feito moradia.
A novela Babilônia no horário nobre da Globo expõe nas diversas tramas desenvolvidas um desfile de personagens que mentem, enganam e vivem de maneira inautêntica com a maior desfaçatez. A série de grande sucesso realizada e distribuída pela Netflix “House of Cards”descreve a vida política americana impregnada de cinismo, falsidade, “jogos de poder” e dissimulação. José Mujica (ex-presidente uruguaio), segundo a revista Veja, esclarece em seu recente livro que Lula confessou o crime do mensalão para ele.
O livro é uma autobiografia 'Una Oveja Negra al Poder' (Uma ovelha negra no poder), escrita pelos jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz com depoimentos de Mujica. Em 2010, ao conversarem sobre o escândalo do mensalão (compra de apoio político no Congresso), o presidente Lula teria falado a Mujica que aquela era "a única forma de governar o Brasil".
Assim temos assistido um retrato social em que a vida não autêntica parece impor-se e justificar-se, ao ponto que esperar honestidade e coerência entre discurso e ação são confundidos com ingenuidade. Porém as palavras de Paulo ecoam, em torno de 2000 anos: “enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável”; Paulo nos oferece a senha neste mundo que vivemos, “enfrentei-o face a face” esclarece que é preciso derrubar a hipocrisia encarando-a.
Não pode haver vacilo ou dúvida. É claro que nesta sociedade estamos “formatados” a pensar que a mentira deve ser aceita e entendida como a única via para o sucesso. Entretanto ousar aprender a verdade, a autenticidade é a verdadeira revolução. É inserir-se no novo paradigma, ceder é derrotar-se e manter o sistema, mesmo nos dando a aparência de estarmos sendo vitoriosos nos fins perseguidos.
Esta é a ilusão ou a justificativa para estar no poder, quando traímos os meios em nome dos fins deixamos de ser a mudança de paradigma para incorporar a manutenção do sistema que criticamos. Jesus não seria “semente” de mudança e não teria revolucionado tanto nosso planeta e tantas pessoas se não tivesse sido uno, íntegro entre o que fala e seu procedimento. Daí ter resistido a tentação e não cedido ao mundo de aparência, Paulo nos chama através desta advertência feita à Pedro a buscarmos coerência com o Pensamento Cristão.
Alexandre Rivero é psicólogo clínico, mestrado pela USP, professor universitário e diretor do Consultório de Psicologia e Ressignificação Humana -